Ouvidoria da Câmara visita CAPs do Jardim Baiano
Problemas de estrutura, falta de profissionais e remédios foram relatados por pacientes

Foto: Assessoria
04/04/2017 - 16:49
A Ouvidoria da Câmara Municipal iniciou a série de visitasque fará aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em Salvador. Nesta terça-feira (4), pacientes e profissionais que trabalham na unidade Antonio Roberto Pellegrino, localizada no Jardim Baiano, relataram problemas de infraestrutura, falta de funcionários, dificuldades na alimentação e escassez de materiais, que influenciam diretamente nos tratamentos oferecidos pelo CAPs II.
A demora na nomeação dos aprovados no concurso público de 2011 causa uma espécie de “efeito dominó administrativo” no CAPs do Jardim Baiano. “A farmacêutica está de licença e, infelizmente, não teve quem a substituísse. A falta da profissional especializada fez com que a farmácia, que fica lotada no CAPs, saísse daqui provisoriamente durante o período dessa licença. É uma bola de neve, que dificulta muito o nosso trabalho”, lamentou a coordenadora interina do CAPs, Ana Paula Andrade Sacramento.
Ouvidor-geral da Câmara, o vereador Luiz Carlos Suíca (PT) destacou a importância das visitas-técnicas do órgão a fim de aprimorar o atendimento em saúde mental. “O contato direto é fundamental. É importante ouvir os relatos, mas conhecer a realidade é imprescindível. Estamos cumprindo o nosso papel, ouvindo profissionais, usuários e familiares para melhorar a qualidade do serviço oferecido aos pacientes”, afirmou.
Em 2013, a Ouvidoria da Câmara também visitou os CAPs de Salvador. A ideia é que seja estabelecido um comparativo entre as estatísticas atuais com as obtidas há quatro anos.
Dor e esperança
Ninguém com mais propriedade para relatar os problemas do que os próprios pacientes. A visita da equipe da Ouvidoria foi interrompida com um: “Vocês precisam me ouvir”. Militante da luta antimanicomial e usuária do CAPs, Girlene Almeida reclamou da falta de remédios fundamentais para o tratamento e lembrou as dificuldades sofridas após internamento em hospitais psiquiátricos. “Tomei eletrochoque e nunca mais fui a mesma. É muito sofrimento”, denunciou.
Apesar das inúmeras dificuldades, a esperança em dias melhores persiste entre a maioria dos pacientes. Atividades lúdicas e terapêuticas são oferecidas pelo CAPs para socializar os usuários. Artista plástico e comediante, o usuário Zeferino Nascimento, conhecido como Zé Passarinho, declarou o seu carinho pelo CAPs do Jardim Baiano, mas acredita que muita coisa ainda precisa melhorar.
“Estou aqui há 11 anos. É a minha casa, minha inspiração e só saio quando morrer. Apesar das oficinas para criação, tenho que comprar tudo com o meu dinheiro. Falta pincel, tinta, papel, tudo. Precisamos desse apoio. A arte é o caminho que nos socializa e é a ponte que precisamos para nos manter vivos”, relatou.
Usuários do CAPs Jardim Baiano também criticaram a quantidade de alimentações diárias. De acordo com os pacientes, diminuiu de três para duas “sem qualquer justificativa”. A empresa responsável pelo fornecimento é a Serve Mais Refeições, que oferece uma média de 35 quentinhas por dia.
Melhorias na acessibilidade, banheiros adaptados, macas, além de uma reforma geral também foram cobrados pelos usuários.
O CAPs do Jardim Baiano tem 910 pacientes matriculados. Deste total, 305 estão frequentando com alguma regularidade. Por dia, a unidade atende uma média de 45 usuários.
Fonte da notícia: Secom