"A cor da pobreza menstrual"
Este foi o tema da audiência da Comissão de Direitos Humanos

Foto: Assessoria da vereadora
18/08/2021 - 16:38
A Comissão de Direitos Humanos e de Defesa da Democracia Makota Valdina, da Câmara Municipal de Salvador, realizou, na segunda-feira (16), uma audiência pública com o tema: “A cor da pobreza menstrual”, onde se discutiu a dificuldade de acesso à higiene menstrual no Brasil, e em Salvador, e como a questão desencadeia uma série de graves problemas na vida de milhares de pessoas.
Mediada pela vereadora e presidente da Comissão de DH, Marta Rodrigues (PT), a mesa conta com a presença da titular da Coordenação de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado (DPE), Eva Rodrigues; Renata Deiró, da Comissão dos Direitos da Mulher da OAB-Ba; Julia Morais, da Flor de Maio; Carolina Costa Moraes, pesquisadora do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA); Elisa Gallo, da Marcha Mundial de Mulheres; Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras; Maria Santana da Rede Humaniza; Fernanda Lordelo, secretária municipal de Políticas para as Mulheres; Gabriela Monteiro, oficial de Programa para Assuntos de Juventudes (UNFPA), o vereador Suíca (PT), presidente da Comissão de Reparação da Câmara de Salvador e o advogado e homem transsexual Victor Hugo Villas Boas.
“Este é um problema que precisa ser discutido amplamente pela população, pois afeta milhares de meninas e adolescentes, causando danos ao desenvolvimento escolar, e em diversas situações na vida adulta, de mulheres e homens trans, fazendo com que se deixe de exercer suas atividades regulares, tendo que optar entre segurança alimentar de um lado e liberdade de circulação e saúde do outro. E sabemos que no Brasil este problema afeta majoritariamente o povo negro, que é maioria da população”, disse a presidenta da Comissão de DH, Marta Rodrigues.
A pesquisadora da UNFPA, Carolina Morais, realizou uma palestra onde expôs dados do estudo, conduzido por ela ao lado da Unicef e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), intitulado de “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, Morais apontou que mais de 4 milhões de estudantes frequentam colégios com estrutura deficiente de higiene, como banheiros sem condições de uso, sem pias ou lavatórios, papel higiênico e sabão. Desse total, quase 200 mil não contam com nenhum item de higiene básica no ambiente escolar. A pesquisa avaliou o acesso à água, ao saneamento e à higiene, itens fundamentais para garantir os direitos durante o período menstrual. Foram utilizados dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) – por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), abrangendo um total de 15,5 milhões de meninas brasileiras.
Integrante da Marcha Mundial de Mulheres, Elisa Gallo pontuou ainda a invisibilidade que se tenta dar para o tema no país. Representando a Rede de Mulheres Negras, Lindinalva de Paula disse que a pobreza menstrual no Brasil tem cor e raça. Participaram ainda a vereadora Maria Marighella (PT), da Comissão de DH, o vereador e presidente da Comissão de Cultura, Silvio Humberto (PSB), além de Claudia Sueli, advogada e componente da Comissão da mulher da OAB do Espírito Santo; Rozana Lima, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen-Mulher), Jurema Brito, da Secretaria Estadual de Educação.
Cor/Raça
O fenômeno é afetado por outras variáveis envolvendo a desigualdade racial, social e de renda. Uma família com maior situação de vulnerabilidade e renda menor tende a dedicar uma fração menor de seu orçamento para itens de higiene menstrual, uma vez que a prioridade é a alimentação. De acordo com o estudo, a chance de uma menina negra não possuir acesso a banheiros é quase três vezes a chance de encontrarmos uma menina branca nas mesmas condições. Além disso, enquanto cerca de 24% das meninas brancas residem em locais avaliados como não tendo serviços de esgotamento sanitário, quase 37% das meninas negras vivem nessas condições.
Fonte da notícia: Assessoria da vereadora