Crédito: Valdemiro Lopes
Ao ouvir do jornalista paulista Joaquim Antônio Ferreira Netto, em uma entrevista com a sambista Leci Brandão em seu programa televisivo (Programa Ferreira Netto), que para serem reconhecidos na sociedade os negros do Brasil precisavam reconhecer e homenagear seus próprios heróis, o professor José Vicente se deu conta de que ali estava o combustível de que necessitava para lutar contra a discriminação racial e por melhores oportunidades para a população negra.
A coragem, vontade e persistência de José Vicente tornaram possível a criação do Troféu Raça Negra e da primeira instituição de ensino superior voltada para a inclusão do negro na América Latina, a Faculdade Zumbi dos Palmares, da qual é reitor. Foi esse trabalho pioneiro protagonizado pelo professor José Vicente que lhe rendeu a Medalha Zumbi dos Palmares, entregue pela Câmara Municipal de Salvador, na noite de sexta-feira (30).
Para tornar possível a primeira edição do Troféu Raça, em 2000, no Theatro Municipal de São Paulo, foi preciso impetrar um mandado de segurança. “Pela primeira vez, negros de todo o Brasil colocaram seus melhores paramentos, homenagearam e celebraram seus heróis”, relatou José Vicente.
A vereadora Olívia Santana (PCdoB), autora do requerimento para concessão da honraria, ressaltou a contribuição do reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares para o processo de inclusão do negro no campo acadêmico e, por conseqüência, nas mais diversas áreas profissionais. “José Vicente lançou-se ao desafio de lutar por oportunidades aos seus iguais. Ele tem o entendimento do quanto é importante a presença do negro na ‘Academia do saber’”.
Nascido em Marília (SP), o dia e mês de nascimento de José Vicente – 11 de novembro – são, segundo Olívia, carregados de significado: em um dia 11 de novembro, Angola conquistou a sua independência. De família pobre, José Vicente passou a infância em situação de precariedade, foi boia fria, mas “entendeu a possibilidade de mudar o destino”.
Na visão de Olívia Santana, José Vicente “não se acomodou”. Estudou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e atualmente preside a Ong Afrobras, fundada em 1997 e que promove atividades de formação, qualificação e ações afirmativas para visibilidade do negro brasileiro. Dentre os projetos da Ong estão o Troféu Raça Negra e a Faculdade Zumbi dos Palmares.
Desbravador
O desejo de se ter um estado livre de qualquer preconceito e a necessidade de “desracializar as relações sociais” foram apontadas por Olívia Santana, que destacou o compromisso de José Vicente com o movimento negro. “Sei do valor, do trabalho dos desbravadores. Não queremos apenas o negro que senta no banco dos réus, mas o que seja o juiz que dará a sentença”, disse a vereadora.
Em seu discurso, o reitor José Vicente estendeu a homenagem recebida a pessoas que o apoiaram, que contribuíram e ainda contribuem para promover a inclusão do negro na sociedade. Citou a primeira reitora negra do país, Ivete Sacramento, o engenheiro Nelson Narciso, dentre outros. Em nome dos “alunos negros da Faculdade Zumbi dos Palmares”, José Vicente agradeceu o recebimento da Medalha.
Estiveram presentes, à mesa da sessão, junto ao homenageado e a Olívia Santana, o vereador eleito e fundador do Instituto Steve Biko, Sílvio Humberto (PSB); o vice-prefeito de Salvador Edvaldo Brito; o reitor da Uneb, Lourisvaldo Valentim; o secretário municipal da Reparação, Aílton Ferreira; a diretora acadêmica do Ipeafro, Vanda Ferreira; o presidente da Fundação de Neurologia da Bahia, Antônio Andrade; o secretário nacional da Unegro, Gerônimo Júnior; e a jovem cotista vencedora do Prêmio Jovem Cientista, Emily Conceição. A vereadora Aladilce Souza (PCdoB) presidiu a solenidade, durante o pronunciamento de Olívia. Também participaram da sessão os vereadores Vânia Galvão (PT), Odiosvaldo Vigas (PDT), Gilmar Santiago (PT) e Moisés Rocha (PT).